A FMTE reproduz aqui, texto na íntegra de Bene Barbosa, presidente do Movimento Viva Brasil-MVB, com algumas considerações acerca das recentes notícias sobre a liberação do porte de arma para os Atiradores Desportivos pelo Exército.
Texto de Bene Barbosa
‘Nos últimos dias fui procurado por muitas pessoas para comentar sobre a liberação do porte de arma para os Atiradores Desportivos pelo Exército, mais precisamente pela DFPC Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados. A reação imediata foi de comemoração, mas acabei não comentando nada por considerar necessária uma análise contextual e é isso que farei aqui.
A tese acolhida pelo Exército foi defendida pelo pesquisador Fabrício Rebelo em 2010, aperfeiçoada em 2013(1), largamente divulgada pelo Movimento Viva Brasil e resumidamente consiste em que Atiradores Desportivos não estão legalmente impedidos de levarem uma arma carregada no trajeto de sua residência e o local do treino ou competição e que, sim, os atiradores desportivos estão elencados na lei 10.826/03 entre as categorias que possuem o direito ao porte de arma que deverá, neste caso, ser expedido pela Polícia Federal, coisa que chegou acontecer até o ano de 2007 quando o chefe do SINARM, Dr. Fernando Segóvia, tinha esse entendimento, que infelizmente não se perpetuou com a sua saída e a chegada de outros chefes... como eu diria... com pensamentos mais governamentais.
Não vou me ater aos detalhes técnicos, jurídicos ou nas minúcias de como e quando isso deverá acontecer. Minha real preocupação é o porquê disso ter acontecido exatamente nesse momento e após anos e mais anos de uma política cada vez mais restritiva por parte do próprio Exército que não se obstou de repassar todas as dificuldades do Estatuto do Desarmamento aos chamados CAC Colecionadores, Atiradores e Caçadores - e ainda criar algumas novas, tornando o Esporte e o Colecionismo quase um ato de heroísmo e abnegação.
Nos vídeos divulgados pelo General Theofilo Gaspar (2), Diretor Logístico e pelo também general Neiva(3), Diretor de Fiscalização de Produtos Controlados, alguns pontos me chamaram a atenção: um deles é que o Ministério da Defesa havia concordado com a liberação do porte para os Atiradores Esportivos. Nada demais se o Ministro atual não fosse Raul Jungmann, um dos mais empedernidos desarmamentistas que já tive o desprazer de cruzar e que, como ele mesmo gosta de dizer, transformava nossa vida em um inferno quando era deputado federal.
Não é só isso! O silêncio sepulcral da imprensa, que quase em sua totalidade é favorável à manutenção do Status Quo no que diz respeito às armas e que não poupa críticas à qualquer tentativa de menores restrições, é no mínimo estranho. Silêncio compartilhado por todas as ONGs e especialistas defensores da lei atual. Tudo isso, para mim, não faz o menor sentido e as coisas não se encaixam... A não ser que isso seja parte de uma estratégia maior: salvar o Estatuto do Desarmamento!
Nos últimos anos se acirraram as críticas à atual legislação com o apoio de vários deputados, senadores e o apoio de grandes formadores de opinião como a advogada Janaina Paschoal, o apresentador e comediante Danilo Gentili, o cantor e escritor Lobão ou ainda a jornalista Joice Hasselmann e até o Mr. Catra! Não bastasse isso, os grupos que convocaram e colocaram milhões de pessoas nas ruas contra o governo da ex-presidente Dilma, agora adotaram como uma de suas principais pautas a revogação do Estatuto do Desarmamento e a aprovação do PL 3722 do Deputado Rogério Peninha e convocaram manifestações por todo o país para o próximo dia 26. O site UOL deu grande destaque com a manchete: Após Dilma, movimentos agora querem derrubar Estatuto do Desarmamento(4). Não podemos deixar de lembrar que essa não será a primeira manifestação popular, pois no último dia 19 de fevereiro, ocorreram manifestações em mais de 15 cidades do Brasil e a imprensa simplesmente fez de conta que não ocorreram(5). Simplesmente impossível fazer isso com as próximas. Em resumo: a política de desarmamento está por um fio no Brasil e eles sabem disso, portanto, a melhor forma de salvar o todo é sacrificando alguma coisa.
Os CAC e suas respectivas associações, federações e confederações são tidas como fortes grupos de pressão, portanto, para eles, se tiverem algum benefício real haverá a chance de simplesmente se acomodarem. A análise não está totalmente errada, mas é bastante frágil, mas não serei logo eu que entregarei o ouro ao bandido. Seja como for, a esperança deles é simplesmente diminuir a pressão evitando que a panela exploda. Falharão! A coisa toda é muito maior que eles mesmos podem imaginar.
Há que se comemorar o porte para Atiradores Esportivos? Não tenho a menor dúvida que sim, porém também não tenho dúvidas que haverá um pesado ônus em contrapartida: as regras para possuir C.R. Certificado de Registro no Exército se tornarão ainda mais rígidas e criteriosas atrapalhando em muito aqueles que querem, mesmo de forma despretensiosa, praticar o esporte que foi responsável pela primeira medalha olímpica de ouro do Brasil nas olimpíadas de Antuérpia em 1920. Durante os próximos meses muitas pessoas procurarão clubes de tiro e despachantes em busca do porte como Atirador Esportivo, algo absolutamente moral para quem busca ainda formas legais para defender sua vida e sua família, isso não é bom para ninguém, portanto, fica aqui o meu apelo: não se acomodem e ajudem na derrocada dessa lei de viés totalitário, todos ganharão com isso e não com migalhas jogadas aos pombos.‘
fonte: FMTE